A dor é a manifestação primordial da vida. Tudo o que fazemos é para atenuar essa dor. A felicidade suprema seria a ausência total de dor. Eis uma tentativa de contribuição para minorar esse sentimento … Como naquela expressão inglesa: I have my moments, em resposta à pergunta, Are you happy?

sábado, agosto 04, 2007

“No nosso tempo, precisamente como em 1847, …”

No meio da minha preguiça cibernautica, nesta Silly Season, tenho recorrido, como habitualmente em situações semelhantes, a outras actividades mais antigas. Uma delas é a leitura de livros propriamente dito.
Deparei-me entre mãos com as Cartas de Inglaterra do Eça. E dando uma reespreitadela, chamou-me a atenção o título da primeira carta ou do primeiro capítulo ou da primeira crónica (enviada a um jornal portuense da época), como quiserem, que é Afeganistão e Irlanda. Ora o curioso é que esta carta descreve, de uma forma satírica, um momento histórico que me faz lembrar qualquer coisa …. Hmmmm!!!! Não estou bem a ver … O que é que será? Podem-me ajudar …? Leiam este trecho para ver o que é que acham.

(…)
Em 1847 os ingleses, “por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia…” e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes – invadem o Afeganistão, e vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos Arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz … Assim é exactamente em 1880.
No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes energéticos, Messias indígenas, vão percorrendo o território, e com os grandes nomes de Pátria e de Religião, pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o homem vermelho, e em pouco tempo é todo o rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a estrada da Índia… E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.
Foi assim em 1847, é assim em 1880. (…)