Depois da rejeição (?) dos irlandeses do Tratado de Lisboa em forma de referendo e de certos argumentos descabidos do "não" como a obrigatoriedade de o envio de tropas ao Afeganistão e da instauração da liberalização do aborto, com uma abstenção astronómica e com a incapacidade de argumentação de os que defendiam o Tratado, chego á conclusão, através desta amostra, que as pessoas em geral não amam a "ideia da Europa". Gostava de estar errado.
Gente que eu gosto de ouvir e das quais as ideias em grande parte eu comungo defendem que se perdeu uma grande oportunidade de discutir a Europa. Confesso que tenho dúvidas do interesse do povo sobre este assunto e teria receio dos argumentos enganosos que surgiriam nesta discussão, mas agora acho que talvez teria sido melhor, em vez de tentar ser condescendente dizendo que "nós é que sabemos o que é melhor para vocês."
Gostava mesmo de saber qual seria o grau de interesse dos europeus numa discussão sobre assuntos da União. Mas, também culpo os políticos medíocres que proliferam pela Europa fora pelo facto de não saberem veicular os ideais de uma Europa efectivamente unida, vantajosa para todos. Uma Europa sonhada há meio século atrás. Gostava mesmo de saber quem é que estaria interessado em partilhar a sua soberania, em ter um governo europeu, um exército europeu, com vontade própria, uma moeda única … Gostava de saber.
Gostava de ver quantos é que discutiriam a “Europa” de uma forma séria. Gostava tanto.
Continuo, no entanto, a culpar os políticos europeus que não têm verdadeiro “amor à camisola”, apenas servem-se das instituições europeias para se exilarem de assuntos internos e para garantirem tacho. Nessa medida simpatizo com o que dizem os meus amigos Gomes, Miguel e outros, mas entristece-me a apatia e / ou desdém generalizados tanto dos políticos como do povo em geral em relação à Europa.
Este tratado não foi criado por Sócrates e Barroso, foi uma versão remendada da Constituição Europeia, uma Constituição feita na base de verdadeiros ideais europeus e que foi chumbada por causa, fundamentalmente, de razões internas da Holanda e França.
A Europa continua a arrastar-se, mas … enquanto há vida há esperança.
Faço um apelo aos políticos (como se lessem o que eu escrevo). Já que parece que há tanta gente a querer uma discussão sobre a “Europa”, que se experimente. Já agora, gostava de ver a quantidade e qualidade da participação.
Sonhos.
Talvez seja mais uma utopia.